segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O tcham e o Dia do Folclore

         



O Tcham e o Dia do Folclore
Marlei Sigrist

Hoje é dia 22 de agosto e nesta data comemora-se o Dia do Folclore. Em todo o mundo festejam-se as tradições dos povos que receberam de seus antepassados os costumes mais fortes e marcantes da vida diária, tanto no sentido material, quanto imaterial. 

No Brasil, de acordo com Laura Della Mônica, em seu “Manual do Folclore”, ainda na primeira metade do século XX “a moda de se imitar o que era original veio dar uma confusão aos estudiosos menos avisados. Ninguém sabia o que era folclórico e a Comissão Nacional de Folclore insistia na realização de Congressos que tratassem de dissipar dúvidas e orientar os caminhos da pesquisa. Criou-se a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, em 1958, no Ministério da Educação e Cultura”. Somente em 1965 o governo brasileiro instituiu a data de 22 de agosto em comemoração ao Dia Nacional do Folclore, recordando o lançamento pela primeira vez, em 1846, da palavra Folk-lore, pelo arqueólogo inglês William John Thoms.

A partir daí, cada estado foi adotando a mesma prática e inserindo, no calendário regional, os festejos dessa data e mais, incluíram os estudos do Folclore nos programas curriculares das escolas e dos cursos de graduação de Estudos Sociais e Educação Artística, com recomendação para os demais cursos da área de Humanas.

Portanto, desde a adoção dessa prática, todos os anos os professores se vêem às voltas com as comemorações do “Mês”, da “Semana”, do “Dia” do Folclore. Esses profissionais abnegados que, hoje, enfrentam todo tipo de problemas como baixos salários, burocracias ultrapassadas, falta de verbas para realização de projetos consistentes, espaços físicos inadequados, violência até dentro das escolas e tantas outras coisas mais, programam-se, também, para as comemorações dessa data.

Assim como em qualquer meio, existem os bons profissionais, conscientes da responsabilidade que têm com o seu trabalho, com o seu público, com o seu interlocutor, enfim, com aqueles que dependem de sua informação; mas existem também os chamados “encostadores de barriga”, aqueles que sempre dão um jeitinho de burlar a vigilância e tentam enganar (ou pensam enganar) o chefe, a empresa, a instituição, os clientes, os alunos.

É nesse momento que me chegam notícias de que em algumas escolas ainda há professores (talvez de áreas que não humanas), tendo que carregar uma cruz que não desejaram – responsabilizaram-se por algumas turmas na escola e “devem” trabalhar a temática por imposições superiores. É aí que (agora recorro às frases feitas) “o caldo entorna”, ou “a porca torce o rabo”, ou ainda “a vaca vai para o brejo”. Lá, estão alunas preparando a festança, ensaiando grupos de tcham, de eguinha pocotó, de pagode, de funk e de arrocha e de outros tantos ritmos ditados pela televisão.

Logo se nota a diferença entre o profissional da educação que está sempre preocupado em estudar, pesquisar, reciclar o seu fazer e aqueles que se acostumaram ao uso do caderninho amarelado pelo tempo, cheio de fórmulas imutáveis, que dá menos trabalho para preparar sua aula (ela já está pronta há muitos anos) e não é necessário pensar, reformular, criticar (em outras palavras – usar a massa cinzenta de seu cérebro).

Os ritmos acima mencionados podem até agradar ao público, formado por adolescentes (o que é bastante questionável), mas não se justifica usá-los nas comemorações folclóricas, pois não possuem as características fundamentais para tal. Eles pertencem à cultura de massa, totalmente distante das tradições, da cultura de raiz.

Acredito que um pouco de estudo, de leitura sobre o assunto e opiniões de especialistas, irão ajudar aqueles profissionais a recolocarem o trem nos trilhos.

Então, por favor (eis meu grande apelo) não chamem de folclore o que não é. Façam suas festas com tchans e tchuns, pocotós e pocotuns, mas em outras datas, com outros títulos, outros conteúdos (talvez sobre a influência da mídia na vida das pessoas) e assim cada coisa ficará no seu lugar, sem subterfúgios, sem enganações e, principalmente, sem frustrações.

No entanto, quero saudar a todos os professores conscientes (que são a maioria), engajados com a tarefa de educar em sentido amplo, pelo empenho que demonstram ao realizarem bons trabalhos, dignos de destaque. Esse trabalho vai para as ruas, em Campo Grande/MS, no dia 26 de agosto – dia do aniversário da cidade, no momento do desfile cívico apresentado pelas escolas, numa iniciativa do Projeto CIM, da Fundação Barbosa Rodrigues e da Secretaria Municipal de Educação.

Parabéns Campo Grande, parabéns professores, pela utilização correta do tema Folclore nessa data.

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