segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A cultura tradicional no mundo globalizado




A Cultura Tradicional no Mundo Globalizado
Marlei Sigrist

Resumo: A cultura popular, fonte de inspiração para produtores culturais, enfrenta uma nova ordem mundial – o da globalização e sua reorganização já é bastante clara, principalmente quando estimulada pelos meios de comunicação e pelas mudanças econômicas e políticas.


A cultura popular, enquanto temática, apresenta-se como fonte rica e inesgotável para poetas, escritores, cineastas, artistas de modo geral produzirem suas obras, que de uma forma ou de outra contribuem para a composição da identidade nacional. As festas populares, o carnaval, os diversos ritmos, a capoeira, o frevo, o samba e alguns folguedos como: bumba-meu-boi, cavalhada, pastoril, dança, bem como as narrativas que contam façanhas de personagens, expõem lendas e outras histórias são alguns exemplos. Com isso, a cultura popular se projeta nos campos erudito e massivo.

Mas não é por isso que vamos sair por aí copiando todas as manifestações culturais para dizermos que “preservamos nossas tradições”. Agradou-me a ideia de concordar com Ariano Suassuna quando, de uma entrevista, afirmou que “o único verdadeiramente autorizado a criar arte popular brasileira é o povo brasileiro” e, “qualquer um de nós (da cultura oficial) que tentasse fazer uma poesia popular, estaria fazendo uma falsificação”.

Como sabemos, atualmente, há o predomínio do consumo da cultura de massa e é inegável que a mídia marca presença no novo milênio, “temperando” os acontecimentos e as mudanças que contribuem para o desenvolvimento em diversos campos: político, econômico, científico e cultural, só para citar alguns.
Nessa nova ordem mundial, gerada pela globalização, a cultura popular sobrevive à margem da cultura massiva, sendo que muitas manifestações acabam por desaparecer e outras por diluírem-se, tornarem-se, também, massificadas, apenas um produto a mais no mercado.

No Brasil, podemos apontar a diluição das especificidades locais ou étnicas/tribais no contexto da globalização, se, por exemplo, olharmos para a produção artesanal indígena de Mato Grosso do Sul. Poderemos perceber diferenças marcantes nas formas, nos desenhos e no material que os identificam enquanto etnias, porém expostas nas Casas do Artesão, ao lado de outros tantos artesanatos produzidos por não-índios e sem explicação na sua exibição, geram a desinformação ao público, principalmente ao turista. O mesmo se dá nos mercados nordestinos, pontos de venda de artesanatos, nos quais estão expostas peças variadas de diferentes comunidades, sendo todas rotuladas de artesanato nordestino. Como esses, podemos tomar muitos outros exemplos: o samba brasileiro, a culinária, a medicina popular, reorganizados pela indústria cultural.

Por outro lado, é correto pensar que a promoção das culturas tradicionais só adquire sentido e eficácia, na medida que vincula as tradições às novas condições de internacionalização, de mercado, de tecnologias.

Ao consultar a bibliografia que debate a globalização, encontramos relatos que constatam o fortalecimento das diferenças culturais e que o viés da comunicação é que nos aponta tanto o avanço da globalização, como a redefinição das culturas ou identidades regionais/locais. As recentes pesquisas na área de Comunicação mostram que essas culturas estão se fortalecendo a cada dia, até para manterem suas especificidades destacadas e/ou valorizadas.

Sabemos que a cultura de massa apropria-se tanto da cultura erudita, quanto da cultura popular, ajustando-as às suas exigências: atingir o maior número de espectadores, no menor tempo, com a qualidade exigida pela hegemonia e, por isso, as diferenças continuam enquanto partes ligadas à rede do próprio sistema capitalista. Por isso mesmo os grupos sociais estão se equipando, se aprimorando e se impondo no mercado de consumo dos produtos culturais.

Consequentemente, uma nova trama cultural está se processando e desafia nossa compreensão de cultura, segundo os marcos referenciais que possuíamos até há bem pouco tempo. Também são bem visíveis as novas e diferentes formas de socialização que a sociedade articula para percorrer outros caminhos determinados, principalmente, pela economia de mercado mundial.

Portanto, no contexto de uma sociedade global, falar de cultura tradicional, identidade regional/nacional torna-se imperativo estar atento às questões econômicas, principalmente aos fatores determinantes do mercado, que vão influenciar, direta ou indiretamente, no campo cultural e às questões políticas que determinam, hoje, o modo de ser, de agir, de produzir.

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