segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Campo Grande Cidade Morena e a Cultura Popular



Campo Grande-MS

CIDADE MORENA E A CULTURA POPULAR
Marlei Sigrist

Resumo: 
Costumes e tradições  ainda circulam nas sociedades do terceiro milênio, transitando entre e antigo e o moderno, renovando-se de maneira dinâmica. Campo Grande/MS se permite misturar sabores, linguagens, crenças, músicas e tantas outras manifestações.


Sabedoria e criatividade são qualidades que não faltam à gente do povo. Não pense que povo é somente o outro. Povo somos nós: eu, você, o vizinho, os parentes, não importando a classe social na qual nos incluímos. 

Como tal, estamos sempre criando coisas novas ou readaptando o que aprendemos com as gerações passadas. Por exemplo, apesar da riqueza oferecida pela Língua Portuguesa, o brasileiro cria constantemente neologismos, como o tão divulgado “imexível”; os  jargões, próprios de diversas categorias profissionais, como dos jogadores de futebol, dos guardadores de carro e outros;  os regionalismos, palavras  ou expressões próprias de uma região, como guri ou vôte, entre nós em Mato Grosso do Sul.

Quando me lembro que meus avós anunciavam que “o castigo vem a cavalo” e, depois, “o castigo vem a galope” e, mais tarde, meus pais diziam “o castigo vem a jato”, hoje posso ouvir que “o castigo vem pela internet”.  As conquistas tecnológicas acontecem tão rapidamente, que os dizeres populares e tantos outros costumes tradicionais também se atualizam.

Não importa se uma palavra, ou um antigo costume caiu em desuso, ou, pelo contrário, eles continuam transitando entre o antigo e o moderno, de maneira articulada, o fato é que a inventiva popular está sempre descobrindo novas maneiras de reorganizar sua maneira de ser, pensar e agir.

A cultura é dinâmica e, no âmbito do popular, isso aparece com muita clareza quando paramos para pensar naqueles exemplos. E aí, entendemos que o Folclore é muito mais do que uma coleção de “coisas antigas”, sem utilidade, que viraram peças de museu. Pelo contrário, se os costumes continuam a existir é porque têm uma função a cumprir e refletem o pensamento de um determinado grupo social, incluindo o significado que este dá às coisas.

Por isso, a Carta Magna do Folclore Brasileiro (criada em 1951 e revista em 1995), conceitua o Folclore como “o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social”. Tem como características principais a aceitação coletiva, dinamicidade e funcionalidade.

O Folclore abrange todos os campos da vida humana, incluindo suas histórias, advinhas, mitos e lendas, pregões, xingamentos e gestos, festas, danças, músicas, brinquedos, jogos, artes e técnicas populares e tantas outras manifestações.

Olhando para Campo Grande, Capital de Mato Grosso do Sul, não posso negar a existência de uma diversidade cultural que, antes, poderia dar a impressão de um quadro desordenado, mas, pelo contrário, contribui para reforçar a diversidade de expressões que aqui se manifestam. É na diferença que os diversos grupos conhecem o outro e reconhecem a si próprios.

Em Campo Grande tem sobá, chipa, locro, farofa de banana. Toma-se tereré, guaraná ralado, caldo de piranha, sorvete de bocaiúva. Fala-se com sotaque cuiabano, corumbaense, paraguaio e gaúcho chê!!! Dança-se o ritmo da moda, mas o que se gosta mesmo é de um bom chamamé. O Bon-Odori, dos japoneses, está aí, crescendo ano a ano. Festejam-se os santos de devoção: Santo Antônio, São João, São Benedito - da tia Eva, São Miguel - dos Lugo e os Santos Reis - do Anísio. Os búzios, as cartas, as runas, estão sempre orientando a vida das pessoas, através dos pais-de-santo, das cartomantes e, as mazelas individuais, são retiradas pelas benzedeiras, rezadeiras e curandeiros espalhados pela cidade. Os carrinhos de mão continuam sendo construídos para atender determinadas finalidades e, casas folclóricas encontram-se espalhadas na periferia da cidade. No campo da economia, costuma-se comprar “marcando na conta” da caderneta do bolicho do “seu Zé” e, as pessoas fortalecem a folkcomunicação, contando suas histórias e piadas, mas também criam e veiculam o marketing popular dos seus produtos, através da comunicação oral. 

Enfim, à primeira vista, parece tratar-se de uma apresentação desordenada, na qual estão reunidas coisas muito diferentes. Porém, todas elas criadas no imaginário de povos diferentes que, convivendo no mesmo espaço estão, primeiramente, preenchendo uma necessidade do grupo (caso contrário a manifestação já teria desaparecido) e, em segundo lugar, estão contribuindo para a formação de um amálgama de formas, gestos, cores, jeitos e trejeitos, necessários à identificação do povo Campo-grandense.

               

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