segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Imagens do Natal na era da Globalização




IMAGENS DO NATAL NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO
Marlei Sigrist

RESUMO: 
A festa é uma prática cultural da sociedade agrícola, dentre elas o Natal foi incorporado com o surgimento do cristianismo. Com o advento da sociedade industrial, essa festa foi esmaecendo sua dimensão religiosa, chegando à sociedade da informação com um grande centro irradiador dos signos natalinos, que é Nova York.



A festa é uma prática cultural e constitui uma remota manifestação da vida humana, que os estudiosos da cultura popular situam no alvorecer da sociedade agrícola. Sua motivação original é de natureza mágica. Destina-se a agradecer e/ou suplicar à natureza proteção para as plantações e para a vida. Por isso está associada ao calendário da agricultura. Com o advento do cristianismo, a festa adquiriu feição comemorativa, vinculando-se ao culto divino.

No Brasil, as festas populares foram introduzidas pelos jesuítas, representando o transplante de tradições rurais européias, porém foram pouco a pouco sintonizando-se com as nosso clima e geografia. Dentre essas festas, tem muita importância a do Natal.

Até o séc. XIX, essa festa seguia os parâmetros da sociedade agrícola, cuja motivação principal era a religiosidade.  Uma festa consagrada à família, ceia farta e fogueira no meio da aldeia. Festa da intimidade, dos presentes no Natal, com retribuição no dia de Reis, dos presépios, da roupa nova, das danças de roda, com a “Missa do Galo”. Os símbolos natalinos dessa sociedade, parecem ter sido o Menino Jesus e os Reis Magos.

O advento da sociedade industrial foi esmaecendo a dimensão religiosa da festa. Em meados do séc. XX, quando já se denotava a hegemonia da sociedade industrial, a mesma festa revestia-se de novos símbolos como  São Nicolau, árvore de Natal e Papai Noel.

Na sociedade da informação a dimensão religiosa tem sido revalorizada, potencializando o seu impacto pelo poder de difusão que possuem os meios massivos de comunicação no conjunto do território nacional. A televisão evoca a liturgia da Igreja Católica, introduzindo no sermão mensagens ligadas às etnias, às classes desfavorecidas e tantas outras. Essas mesmas tendências ficaram refletidas, em anos anteriores, nas reportagens sobre iniciativas de lojistas, confiando até à Joãozinho Trinta a decoração de redes de shopping centers que, na época, mencionou a origem italiana do presépio, lembrando também a arte abrasileiradora do decorador que construíra diferentes matrizes raciais do Menino Jesus. Por outro lado, tendo assumido dimensão coletiva (por causa do clima, a festa foi para as ruas), o Natal brasileiro, nunca perdeu a sua identidade como instante de fortalecimento dos laços familiares. A ceia familiar tem sido preservada e o espírito de solidariedade permanece presente.

Pode-se observar que a agenda televisiva tem contribuído para seduzir grande parte da população brasileira. Os temas natalinos estão presentes nos diálogos das personagens de novela, nos capítulos que antecedem a data da festa. Na programação, de modo geral, as poucas referências à cultura brasileira estão contidas em shows musicais, mesmo assim descolados do espírito natalino. Canais transnacionalizados, transmitem signos  da nossa cultura no circuito da globalização e, ao mesmo tempo, recebem símbolos mundiais, refletindo uma sociedade multicultural, integrada ao quadro da globalização em ascenção. 

Mas essa identidade global, que caracteriza os signos do Natal na sociedade da informação, tem um centro irradiador, que é Nova York, substituindo Paris na sedução que exerceu sobre a cultura brasileira no século XIX. N.Y. possui um ingrediente que sempre fascinou os brasileiros: a neve. Por isso, além de representá-la artificialmente nas decorações dos ambientes natalinos, uma parcela dos brasileiros, em particular do eixo Rio-S.P., resgata a “nostalgia da neve”, usufruindo das festas de fim de ano na meca da cultura globalizada. Os símbolos do Natal ainda são Papai Noel e a Árvore de Natal, mas começam a ser vampirizados pela simbologia da Disneyland e da Internet. Esta última, somada à televisão, transformam-se na grande praça virtual, na qual as pessoas comemoram seu Natal de maneira coletiva.

Estas reflexões são parte de estudos de um grupo de pesquisadores da Comunicação, liderado pelo Dr. José Marques de Melo. Particularmente, em Campo Grande e Dourados, cidades de Mato Grosso do Sul escolhidas para a pesquisa regional, o conjunto das matérias veiculadas pelos meios de comunicação e por nós analisadas reflete, em sua maioria, a exploração consumista das imagens natalinas. Evidencia-se, não só nessa região, mas em todo o Brasil, que as práticas da sociedade capitalista tratam a festa de Natal menos como um ritual de consagração e, muito mais, como prática mercantilista.


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