segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Literatura Oral e a Lenda do Mar de Xaraés




LITERATURA ORAL E A LENDA DE XARAYES
Marlei Sigrist

RESUMO:
No Brasil encontram-se milhares de narrativas populares, dentre elas as lendas ocupam lugar importante. No Pantanal, por exemplo, os habitantes contam histórias sobre o Mar de Xaraés.



As narrativas populares reúnem uma série de contos, lendas, histórias as mais variadas, que expressam o imaginário da sociedade em que vivemos, revelando comportamentos, entusiasmos, juízos, medos e valores de épocas passadas e presentes. Elas também nos fazem reunir as necessidades primordiais da humanidade: a aprendizagem da vida, a busca incessante, o elemento controlador, a grande aventura humana. É um alimento, testemunho dos sonhos e das aspirações. Também parecem ser ambivalentes: ora incitam à resignação, ao fanatismo, ora contêm demonstrações de revolta: malícia e irreverência das fábulas, proibição da injustiça, o que convida e nos leva à união dos mais fracos e estimula à ação comum que transforma. 

Os contos populares, principalmente os fantásticos, reúnem, materializam e traduzem todo o mundo de desejos do ser humano. Exemplo disso é o desejo de mudar de tamanho, tornar-se invisível, transformar o universo, ser super qualquer coisa, aquilo que a imaginação determinar.

Assim também as lendas cumprem a função de ora explicar a origem das coisas do universo, ora explicar as façanhas dos mitos criados pelas diferentes sociedades.

Em matéria de narrativas populares, acredito que o Brasil seja imbatível, tal é a quantidade de histórias contadas nesse imenso território. Histórias reais, fantásticas ou mentirosas; universais, nacionais ou regionais, estão presentes no dia-a-dia do brasileiro. Muitas delas só conhecemos de “ouvir falar”, outras são desconhecidas no meio em que vivemos.

Uma dessas histórias no Estado de Mato Grosso do Sul é a "Lenda do Mar de Xaraés", referente à região do Pantanal. Os habitantes desse lugar são pessoas simples e guardam em suas memórias histórias que seus antepassados lhes contaram. No Pantanal é muito comum ouvir falar de como se formou essa parte do continente sul-americano, considerando que ali existia, há centenas de anos, o mar denominado Xaraés, pois hoje são encontrados fósseis marinhos, conchas e baías de água salgada.

É certo que estudos indicam que há milhões de anos essa região foi mar, mas é certo, também, que os desbravadores espanhóis criaram uma expectativa sobre o novo território, fazendo crer que a área mais alagada do Pantanal fosse uma enorme lagoa – dos Xarayes, tendo recebido o nome da tribo indígena que habitava aquela região, quando de sua chegada ao local no séc. XVI. E mais, descreviam a paisagem comparando-a com o paraíso, tornando-a um lugar de sonho, mítico, quase inalcançável pelos simples mortais, exceto pelos poucos conquistadores, os bravos e fortes. 

Xarayes torna-se, no início do século XVI, uma das muitas portas de entrada que conduz ao caminho das lendárias Amazonas, mulheres guerreiras e ao tão sonhado El Dorado.

Um dos enunciadores do paraíso foi Alvar Núñez, conhecido como Cabeza de Vaca, navegador espanhol que chegou à região do Prata em 1541.

Mesmo tendo os portugueses, mais tarde, avançado os limites das terras em disputa entre Portugal e Espanha, afastado os espanhóis, destruído reduções jesuíticas e nomeado o lugar de Pantanal, como conhecemos hoje, a lenda do grande mar permaneceu até os dias de hoje.


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